terça-feira, 10 de agosto de 2010

Entranhadas causas da crise




Egoísmo. Priorizar os interesses do planeta, em vez de os de humanos exploradores, é o primeiro passo necessário para a proteção do meio ambiente. Não obstante, poucos se dispõem a renunciar a um estilo de vida afluente, ainda que isso possa estar arruinando o planeta para as gerações futuras. Quando o governo da Holanda — um dos países mais poluídos da Europa Ocidental — tentou limitar a circulação de carros como parte duma campanha contra a poluição, a oposição generalizada sabotou o plano. Embora as estradas holandesas sejam as mais congestionadas do mundo, os motoristas simplesmente não queriam abdicar de sua liberdade de usar o carro.

Interesses pessoais influem nos legisladores e no público em geral. Os políticos relutam em baixar leis ambientalistas que lhes possam custar votos, e os industriais rejeitam qualquer proposta que ameace os lucros e o crescimento econômico.

Ganância. Quando a escolha é lucros ou preservação, o dinheiro geralmente fala mais alto. Indústrias poderosas tentam influenciar as autoridades para minimizar o controle da poluição ou para que não haja regulamentação governamental alguma. O prejuízo causado à camada de ozônio exemplifica esse problema. Em março de 1988, o presidente de uma das maiores indústrias químicas dos EUA declarou: “No momento, a evidência científica não aponta para a necessidade de haver reduções drásticas na emissão de CFCs.”

A mesma empresa, contudo, recomendou acabar gradativamente com os clorofluorcarbonos (CFCs). Uma mudança de atitude? “Nada tinha a ver com o meio ambiente estar sendo danificado, ou não”, explicou Mostafa Tolba, diretor-geral do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP). “Tudo se resumia a quem levaria vantagem [econômica] sobre quem.” Hoje, muitos cientistas se apercebem de que a destruição da camada de ozônio é uma das piores catástrofes ambientais já produzidas pelo homem em toda a sua história.

Ignorância. O que sabemos é pouco em comparação com o que não sabemos. “Ainda sabemos relativamente pouco a respeito da abundância de vida nas florestas tropicais”, explica Peter H. Raven, diretor do Jardim Botânico Missouri. “Surpreendentemente, sabemos mais — muito mais — sobre a superfície da Lua.” O mesmo se dá com respeito à atmosfera. Quanto dióxido de carbono podemos continuar a lançar no espaço sem afetar o clima global? Ninguém sabe. Mas, como disse a revista Time, “é imprudente sujeitar a natureza a testes tão gigantescos se os resultados são desconhecidos e as possíveis conseqüências apavorantes demais para se considerar”.

Segundo estimativas do UNEP, é possível que a perda de ozônio por volta do fim desta década acabe provocando centenas de milhares de casos de câncer de pele por ano. O efeito sobre as plantações e a pesca ainda é desconhecido, mas acredita-se que seja considerável.

Conceitos míopes. Diferente de outras catástrofes, os problemas ambientais acercam-se de nós insidiosamente. Isto atrapalha as tentativas de agilizar uma ação conjunta antes que se cause um dano duradouro. O livro Saving the Planet (Salvando o Planeta) compara a presente situação à dos passageiros condenados no abalroado Titanic, em 1912: “Poucos conhecem as proporções da tragédia em potencial.” Os autores acreditam que a única maneira de salvar o planeta é os políticos e os empresários encararem a realidade e pensarem em termos de viabilidade a longo prazo, em vez de benefícios a curto prazo.

Atitudes egocêntricas. Na Cúpula da Terra, em 1992, o primeiro-ministro espanhol Felipe González destacou que “o problema é global, e a solução tem de ser global”. Uma pura verdade, mas, achar soluções que sejam globalmente aceitas é uma tarefa desanimadora. Um enviado dos EUA à Cúpula da Terra disse secamente: “O estilo de vida americano não é negociável.” A ambientalista indiana Maneka Gandhi, por outro lado, queixou-se de que “uma criança no Ocidente consome tanto quanto 125 [pessoas consomem] no Oriente”. Ela afirmou que “praticamente toda a degradação ambiental no Oriente deve-se ao consumo no Ocidente”. Vez após vez, tentativas internacionais de melhorar o meio ambiente naufragaram nos rochedos dos interesses nacionais egocêntricos.

Apesar de todos esses problemas fundamentais, há razões para ser otimista quanto ao futuro. Uma delas é a boa capacidade de recuperação do sistema de defesa do nosso planeta.

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