domingo, 18 de abril de 2010

Um Esgoto Global

Mas, para o homem, eles são mais do que isso. Eles são também um depósito de lixo. Esgotos sanitários, resíduos químicos de fábricas, e as águas carregadas de pesticidas, que escorrem das terras agrícolas, tudo isso segue em direção aos oceanos, via barcaças, rios e tubulações. O homem há muito trata os oceanos como gigantesco esgoto. Mas, agora, o esgoto começou a voltar-se contra ele. Praias de recantos populares ao redor do mundo tiveram de ser interditadas, nos anos recentes, à medida que o lixo dava na praia, numa amostragem repulsiva.

Parafernália de remédios e resíduos de tratamentos médicos, tais como ataduras sujas, agulhas hipodérmicas e frascos de sangue — alguns contaminados pelo vírus da AIDS — ganharam as manchetes, ao emergirem nas praias costeiras do leste dos Estados Unidos. Pelotas de esgotos não-tratados, ratos de laboratório mortos, um revestimento de estômago humano, e alguns itens mais repugnantes, todos mostraram sua horripilante presença. Alguns se tornaram bem comuns.

Tal crise assola as praias do mar do Norte e do mar Báltico, no norte da Europa, do mar Adriático e do Mediterrâneo, no sul da Europa, e até mesmo existe ao longo das praias soviéticas do mar Negro e do oceano Pacífico. Praias têm sido interditadas, uma vez que os banhistas, em tais lugares, arriscavam-se a contrair uma ampla variedade de doenças. Jacques Cousteau, famoso explorador mundial dos oceanos, escreveu recentemente que os banhistas em algumas das praias do Mediterrâneo enfrentavam 30 doenças, que iam dos furúnculos à gangrena. Ele predisse uma época em que ninguém ousaria enfiar a ponta do pé na água.

Os resíduos da humanidade, porém, fazem mais do que fechar praias e causar inconveniências para os nadadores. Seus danos se espalharam às águas mais profundas.

Há vários anos, Nova Iorque começou a despejar a vasa de esgoto que produz, a cerca de 200 quilômetros da costa de Nova Iorque, EUA. Recentemente, de canyons submarinos situados a cerca de 130 quilômetros, pescadores começaram a trazer peixes que apresentavam lesões e escamas podres, e crustáceos e lagostas com a “doença burn spot” — buracos em suas carapaças que pareciam ter sido feitos por maçaricos. Autoridades governamentais negam qualquer relação entre o local de despejo de esgoto e os peixes doentes, mas os pescadores não pensam assim. Um superintendente das docas disse à revista Time que os nova-iorquinos “receberão seu lixo todo de volta nos peixes que estão comendo”.

Os peritos acham que a poluição oceânica está-se tornando rapidamente uma epidemia global; nem se limita às nações industrializadas. Os países em desenvolvimento também estão sob cerco, por dois motivos. Primeiro, os oceanos do mundo são, na realidade, um só grande oceano, com correntes que ignoram fronteiras. Segundo, as nações industrializadas têm-se aproveitado das mais pobres como depósitos para seus resíduos. Apenas nos últimos dois anos, os Estados Unidos e a Europa mandaram cerca de três milhões de toneladas de resíduos perigosos para os países da Europa Oriental e da África. Além disso, alguns empreiteiros estrangeiros constroem fábricas na Ásia e na África sem incluir nelas os sistemas necessários de disposição final dos resíduos.

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